quinta-feira, 31 de março de 2011

Oi

Oi. Eu não te conheço, não sei seu nome, endereço ou telefone. Nem quando ou como vou te encontrar. Mas peço pra me encontrar logo porque minha saudade de ti é pra já. E quando penso em ti me dobro tentando me sufocar, porque a única coisa que sinto é que o Amor não sabe esperar.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Adieu

Ninguém nunca sabe como começar a introdução a um Adeus.

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Fria.
Talvez mais que a chuva que caía lá fora.
Pensou em escrever uma carta de despedidas, abandonar a casa, arrumar as malas e ir embora como sempre fazia. Nesta manhã porém, acordou devagar e observou cada centímetro do que chamava de "A little piece of heaven". Cortinas, os entalhes dos móveis, a pintura da parede, as frases preferidas rabiscadas nelas, o mensageiro dos ventos, tudo era tão perfeito e tão seu. Parecia que acordava pela primeira vez após o último retoque da obra-prima, quando na verdade já se passara 5 anos naquela cidade. Trazia na mala pouca bagagem e muita coragem. Aos poucos montou sua casa com a determinação de que não sairia mais dali, aguentaria, seria forte, ali seria sua fortaleza. Fugir não mais. Amar não mais, também fazia parte do plano.

1 ano e meio conheceu alguém, era Amor.
2 anos estava namorando.
1 mês ele já ocupava uma gaveta.
mais 5 e seu perfume estava na roupa de cama, na mesa de cabeceira surgiu um cinzeiro...

5 anos e aquilo já não parecia seu. 3 anos e meio e já não parecia Amor.

Levantou. Arrumou as malas, o que não coube enfiou em sacolas. Tentou encaixotar algumas coisas, mas a vontade mesmo era de jogar tudo fora. Terminou e pela primeira vez, em um dia de despedida adormeceu no travesseiro seco, e por uma exaustão apenas física.

Acordou, fez um café e sentou-se no sofá com biscoitos e seu notebook aberto. Há quanto tempo não fazia isso? Noite chuvosa. Esperaria ele chegar.

Madrugada, escutou os velhos passos que pretendia não ouvir nunca mais. Ficou ansiosa por breves segundos que se passaram com uma inspiração profunda, enquanto via a fechadura ser destrancada. Voltou seus olhos pra tela do computador.
A sala estava escura seu rosto se iluminava somente pela tela do aparelho, quando um vulto entrou na sala meio vacilante. Sexta-feira, happy-hour, bebidas, conversas, desculpas que ela não ia ouvir mais e ele sabia porque há dias tinha deixado de proferí-las.
Ele deu alguns passos, pra pôr as chaves no lugar, quando ela começou seu belo discurso de Adeus. Com total indiferença sem tirar os olhos da tela, só falava.

-Não se mexa. Não pra pôr essas chaves aí. Você pode guardá-las no seu bolso.

Ele só não ficou mais assustado pela dormência da bebida. Aquela não parecia a mulher doce e sofrida que deixava brava e magoada todas as sextas pra se redimir com amor no sábado. Essa era fria e determinada. E antes que ele pudesse tecer qualquer comentário ela voltou a falar.

-Não que as chaves serão úteis, mas algumas coisas inevitavelmente terão de mudar, não vou olhar pras minhas chaves e lembrar de você.

Ele ia se aproximar quando ela disse:

-Não se aproxime de mim. Não vá molhar esse tapete que não é você quem vai enxugar. Aliás vou pedir pra você secar o chão quando for embora. Estou cansada. Passei o dia a arrumar suas malas encaixotar algumas de suas coisas, as que não couberam enfiei em sacolas. Espero que não se importe.

Ele estava paralisado. O efeito da bebida parecia passar a medida que ela falava, quando ao mesmo tempo ele se sentia num sonho impossível. Mas não era.

-Sei que está chovendo lá fora, mas já arrumei tudo então vou pedir pra você ir embora agora. É bom que assim a chuva apaga suas pegadas, você esquece que um dia veio aqui e eu esqueço que deixei alguém entrar aqui. Tenho certeza que não esqueci de nada, mas se tiver esquecido você pode revirar na minha lixeira depois, a que fica lá fora claro.
Ele só conseguiu se mover pro lado onde estavam malas e caixas e algumas sacolas.
Ela suspirou.

-Adie mon... Hum. Você nunca foi meu na verdade. Nunca fez parte disso aqui.Veio com pouca bagagem e fez um estrago enorme. Se fosse meu te jogava como alguém que enjoa de um brinquedo, seria mais fácil. Não não, não é o que estou fazendo. Você vai embora e eu queria pedir pra ir de uma vez, levar seu cheiro das minhas roupas de cama, das minhas cortinas, dos meus móveis. Levar seus barulhos e manias. Levar até suas lembranças em mim. Pediria a você: "Leve também metade da minha alma e pedaços do meu coração se lhe é preciso que vá embora. Não leve-o todo tenho certeza que há partes nele que não são suas. O que sobrar pode pôr num vidro, pra flores que você nunca me deu e ponha whisky ao invés de água. Não o que eu te dei aquele você leva, mas um melhor que comprei pra essa despedida. Quem sabe com uma bebida quente meu coração não sinta um pouco de calor, um pouco da vida que quando você veio me roubou."

Adieu.

domingo, 20 de março de 2011

T.

T. foi o homem mais menino e mais velho que conheci. E foi um enorme prazer conhecê-lo. Era um homem em seus vinte e tantos anos, aparentemente normal, ou não. Nunca o vi andar pela orla da praia, mas tenho certeza que o fazia, e que se um dia o olhasse não seria normal. Imagino que suas sobrancelhas chamem atenção lhe dando um ar de maldade e desgosto da vida que não eram de todo erradas. Mas também imagino que num surto de andarilho por ruas tão desconhecidas e tão suas tal expressão suavizasse na beira-mar, quando por um acaso ele resolvesse parar.
Quando novo ergueu seu coração ao céu: entre igrejas e túmulos talvez buscasse a aprovação divina, a alma em troca de um pouco de compaixão do senhor dos destinos.
Quando mais jovem estendeu seu coração à frente, como um menino encabulado que estende uma rosa a uma professora, a uma prima ou à vizinha da rua de cima. Era um menino tão bobo com o Amor. Cada amor seu foi cultivado com o zelo das mais belas flores dos jardins mais secretos, e sorria com isso. Era como se com tanto zelo houvesse fé suficiente para acreditar que daquela vez, em cada uma das vezes, não ia dar errado. Mas dava. E isso matava pedacinhos do jardim de um menino bobo que a cada perda ia diminuindo seu jardim, seus investimentos nas flores, mas nunca seus cuidados. E por isso sorriu com pouco, e chorou por tudo. Viu não querendo crer, sentiu a parte mais insensível do mundo, protestou para todos os deuses do passado, chorou por si, pra si, gritou pro universo surdo, mas jamais se conformou com seu chão caindo uma, duas, inúmeras vezes. Em seus vinte e tantos anos ou menos já andava encurvado. Agora ele não erguia o coração, muito menos o estendia, na verdade o escondia. Entre ombros largos carregando por vezes o peso de Atlas e joelhos por vezes fracos e doloridos demais pra tanto peso, protegia um coração que ainda pulsava tão forte quanto ele mesmo no mundo. Era o que chamava de surtos. Pulsava como um louco e talvez realmente o fosse. Era sincero, por vezes irônico e desnecessariamente estúpido, mas era certo, o que escandalizava os demasiadamente hipócritas, irritava profundamente os conformistas e encantava os outros loucos. Sua metáfora perfeita seria: se o universo fosse um grande coração que parou de bater, seus comentários, absurdamente sinceros, seriam choques que talvez um dia fizessem o universo lhe responder, chamar por vida. Quando cansado demais se resguardava em seu pequeno grande universo próprio, que se resumia a desenhos, livros, músicas, paredes brancas, quartos escuros, noites em claro, viagens com seu par de amigos cama e teto, tudo que lhe fazia realmente bem, ou pelo menos tudo que não ia lhe machucar. Afinal, era seu universo, um local com o qual sempre poderia contar, ao contrário de um par de braços que oferecia o mundo e tudo que há de mais por sua companhia, e quando a tinha ia embora deixando o vazio, a saudade e a dor. Era um velho de conhecimento quem sabe mais velho ainda de dores, experiências. Cheio de histórias suas e dos outros com ou sem menor sentido, amáveis ou amargas, por vezes surreais demais.
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Um paradoxo Humanamente normal, pessoalmente excêntrico, curiosamente atraente.
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Admitidamente ingrato, pra mim ainda era mais que um cara legal e estranhamente insano.
T. era mais que um Amor de pessoa, era o Amor em pessoa, era o homem que eu amava.

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P.S.:Favor não fazer nenhuma relação de ordem cronológica. O texto é mais antigo do que parece.

quinta-feira, 10 de março de 2011

19 de dezembro


Tenho a horrível sensação de que não vai adiantar comprar quadros e flores novas, nem pintar as paredes. Que eu nunca ganhei e nem vou ganhar uma rosa de verdade com um bilhete de amor sincero. Que tudo que eu ouvi de todos os homens longe ou perto, olhando nos olhos ou desviando qualquer sentimento vazado pela retina foram apenas belas mentiras, ou palavras vazias. De que cada dia vai ficar mais difícil acordar e encarar o sol lindamente brilhante lá fora. Que a sensação do eterno vazio de não ter pra quem voltar vai me consumir, e eu jogarei os sonhos do meu jardim, minha casa de madeira e vidro, meu quadro de Monet, meu Van Gogh, minha sala de almofadas, meu mensageiro do ventos, meu cachorro.... Que essa mão que eu mesma me dou jamais será o suficiente. E que esse vazio entre meus braços vai ser sempre maior do que eu puder usar de consolo. E que essa eterna e cruel companheira que se chama saudade jamais me abandonará pois se achava que tinha perdido muito pra ela é sempre pouco demais.

Citação








‎"É preciso ter caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." Nietzsche

Hug

-Pode me dar um abraço?
-Posso.
-Obrigada.
-Quando?
-Quando você quiser. Na verdade eu só queria provar a existência de que alguém está disposto a me confortar por alguns segundos.

Status 19 de Fevereiro

E assim caminho, ainda que eu ria chorando.Espero as lágrimas secarem ao vento, fechando os olhos e fazendo uma prece para vida esperando que ela me leve bem, guardando o melhor do que posso ter,sem carregar mágoas de nada.