quinta-feira, 28 de julho de 2011

Se as pessoas fossem livros ele era definitivamente dois em um, onde as páginas de cada história se intercalavam tornando-o um tanto confuso a primeira vista.

Interessante.
Intrigante.
Instigante.
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Hoje lembrando a primeira vez que o viu não sabe dizer ao certo o que lhe atraiu. Se foi só estilo, se foi bom humor ou se havia sido um vislumbre inconsciente de um anagrama a ser percebido e decifrado.

Curiosidade.

Superficialmente não havia nada que cativasse mas a curiosidade permanecia.Tinha o olhar semelhante a uma antiga paixão, era próprio e quase involuntário aparentando malícia mesmo sem querer.E de um simples interesse pelas outras coisas descobriu o formato de suas mãos, sua altura, seu cheiro, seu toque, seu gosto e a textura dos seu cabelos.

Fora tudo rápido demais. O deslumbre se foi como veio.
Ações confusas, distantes das palavras.As páginas intercalavam-se com duas faces diferentes de um mesmo personagem, enlouquecendo quem lesse e não o percebesse.Não fazia sentido, nada fazia.
Não iria enlouquecer, não dessa vez. Resolveu ir embora. Começava a ver coisas que não queria, não ia tomar aquela dor pra si, viver dores alheias nunca esteve em seus planos, ainda mais de um desconhecido. Foi sincera.

Dia chuvoso. Se já tinha um ar melancólico, naquele dia foi que não conseguiu esconder mesmo. O céu desabava e se sentindo presa entre livros, paredes de vidro ou de tijolo sentia o mundo desmoronar. Queria estar em casa longe daqueles olhos que a observavam, não queria fingir que estava tudo bem. Não estava. Não era porque tinha acabado, nem porque havia uma ponta de dor era por como tinha acabado. Orgulho e hipocrisia.Talvez ele jamais soubesse que ela consideraria aquele um dos piores dias da sua vida.

Três dias tristes. Três dias de paz e liberdade.

Até que o viu chamar pelo seu nome. Milhares de pensamentos e não sabia o que pensar. Optou pelo vazio, ser educada e deixar a mente livre de teorias, confusões e problemas.Ele por outro lado parecia insistir em seduzir sua mente, pedindo pra ser enfrentado e lido, fazendo tudo que ela julgou por vezes desnecessário.Estava se apegando se é que ele havia dado algum tempo pra ela se desapegar.

Tentou ir embora de novo de um jeito mais sutil, e foi quando percebeu a face geminiana de sua alma. Estava satisfeita com a descoberta, poderia ir deixando e tomando para si boas lembranças. Era um dia ensolarado como todos os outros e foi a primeira vez que ela viu a cor de seus olhos. Castanhos claros, quase mel. Ele estava mudando e ela sentia um certo prazer nisso, mas não queria ficar pra ver o espetáculo até o final. Talvez ele nunca tenha entendido que o presente que ela lhe deu naquela tarde representava seu valor em todo aquele tempo, que acabaria ali.

Ainda assim não foi o fim. Ele não ia embora e ela não conseguia dizer não ou adeus e era orgulhosa demais pra se limitar e se afastar. Ela já gostava demais, já havia visto demais pra simplesmente ir embora do nada porque já havia se machucado demais.

Dias tão desleais. Ver sem poder tocar. Tocar sem poder manter. Gostar sem poder dizer. Não dizer pra não afastar, não se machucar.Torturantes, desumano, egoísta. Doente, nem ele deveria se entender ou se controlar.Jamais saberia o quanto foi odiado, amaldiçoado, muito menos quantas lágrimas fez rolar. Também não sabia que se esses sentimentos fossem líquidos dissipariam num toque ou num sorriso largo.

Era madrugada. Decidiu que não queria mais, mas não conseguiu dizer Adeus. Ele foi sincero e perguntou se ela queria tentar, em lágrimas ela disse que sim. Fosse em outras circunstâncias ela teria xingado, batido, acariciado, apertado e feito amor com ele.

“É o barulho da risada que gosto de ouvir, acompanhado do raro sorriso largo. É o cabelo que gosto de puxar, as mãos que quero segurar. É o andar que acho engraçado, é o olhar que me deixa sem graça. É rir quando você não tem a menor graça. É preocupar-se comigo, é despreocupar-se com todo o resto. É me enlaçar em seus braços e me apertar contra seu corpo, me pedindo pra ficar, pra estar ali. As costas que adoro abraçar, os ouvidos pros quais quero sussurrar. O peito no qual quero me aconchegar e o lado sombrio que insiste em me afastar.”

Talvez ele nunca soubesse de tudo isso. E ainda se soubesse talvez nunca entendesse.

domingo, 10 de julho de 2011

06.22.11



Um quarto meio escuro. Um quarto meio claro.

Estava deitada.

Tinha apagado as luzes mas no quarto ainda penetrava alguma luz dos postes da cidade, o que permitia que vislumbrasse o contorno de formas familiares como a estante de livros que não tinha livros seus.

Fechou os olhos.

Havia mais de um ano havia saído de casa. Nela tinha seu próprio quarto, e no mesmo escuro que usava para seus devaneios vislumbrava o teto com algumas estrelas e outras formas fosforecentes, uns pôsters, prateleiras com pelúcias e outros objetos que faziam a guarda de seus livros. Uma cômoda com perfumes e mais livros, um guarda roupa e um beliche. Dormia na cama de cima, gostava de olhar por cima e perfeito era ver a luz que os dias nublados produziam ao encontrar suas cortinas, um branco azul suave, um casamento perfeito.

Respirou fundo como se pudesse absorver todo o cheiro da cena, antes que ela se esvaísse. Por um momento acreditou ter tocado num planeta deste universo tão familiar.

Abriu os olhos. Sentiu os lábios encurvados para baixo. Lembrou de suas olheiras a pouco vistas no espelho, depois do banho. Quanta saudade.

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Cantou:

”-Viajamos sete léguas

Por entre abismos e florestas

Por Deus nunca me vi tão só

É a própria fé o que destrói

Estes são dias desleais.”

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Não chorou. Não se sentia triste. Não de todo, não profundamente.

Era mais exaustão. Lembrou de uma imagem de Atlas que lhe havia passado na mente uns dias atrás. Narrava-a mentalmente.

”- E eis que o mundo chegou ao ponto de pesar tanto que caiu sobre Atlas, e o esmagou. Ele não tentou dizer nada, Não protestou, não pensou nos melhores momentos da sua vida, não ergueu a mão pra tocar algo que não existia. Apenas fechou os olhos, enquanto seu corpo gelava e ele perdia a consciência. Era a primeira vez que descansava na Vid… morte.”

Por um breve descuido deixou os pensamentos escorregarem para seu futuro. E quando isso acontecia as velhas lembranças começavam a aparecer como num filme.

Um pânico.

Amava filmes, não amava o drama que sua vida havia se mostrado. Curta-metragens de comédias românticas que haviam perdido a graça, despedidas, lágrimas da mãe, momentos felizes que traziam tanta saudade que só conseguiam fazê-la se sentir melaconlicamente alegre.

Chorou. E quando se deu conta, se agarrava fortemente ao travesseiro que parecia ser o único no local a possuir um cheiro, ainda que leve, de algo familiar.

No auge da escuridão onde nem as luzes dos postes pareciam mais se fazer presentes, Soluçou descontroladamente e desejou por um momento sumir, e talvez por um brilho eterno morrer.

Adormeceu pensando no brilho eterno das estrelas do quadro de Van Gogh, as quais talvez também desejassem um dia perecer.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Passos de um andarilho

Pés que andaram tantas vezes por aquelas ruas tão conhecidas tão suas rumavam por caminhos impessoais, sem história. Não era tarde, mas já não sabia mais o destino de seus passos. Reconhecia o local mas já não parecia fazer parte dele.
"Há quanto tempo" pensou. Fechou os olhos para sentir a brisa e ouvir o barulho das folhas sendo levadas pelo vento, parecia a primeira vez. Não entrou na galeria, estava bom ali fora, entre as sombras das árvores, os ventos e alguns pássaros.
Ignorava as pessoas e os carros.
Não era o que tinha vindo procurar, se é que buscava algo.

Andou.
Pensou que talvez se fosse descalço nalguma parte daquilo ali uma hora poderia se tornar familiar. Acalme-se disse a si mesma, é apenas um lapso.

Andou sem rumo, olhando em todas as direções. Via tudo, ou nada.

Parou cansada. Quando se deu conta de onde tinha vindo parar se admirou e esboçou um meio sorriso.
Na beira da água.
Um rio caudaloso corria à sua frente e como num quadro perfeito que só a visão real, humana, clara e limpa desfrutaria, um pôr-do-sol atingia seu ápice guardando alguns traços na memória daqueles que tal fenômeno, um tanto banal pros moradores da cidade, presenciaram.

Sentou-se, quando a vontade era de deitar livre das convenções humanas.
Livre. Água. Fênix.
Como não lembrar. Havia um tempo deixara de usar o pseudônimo, conhecido por si e alguns poucos próximos. A metáfora perfeita de si mesma. A fênix que renasce num ciclo real, num elemento que sempre tomara como seu. O ciclo da natureza da água se manifestando num ser mitológico , representando a vida em ciclos, Uroborus.
Carrego uma fênix no peito, enquanto tento carregar um mundo nas costas.
Estava tão cansada. Não de tudo, mas sim de todos. Tantos problemas pra carregar nas costas, mal resolvia os seus, parava pra ouvir os dos outros, nada podia fazer a não ser soltar umas palavras de conforto e acabava por se sentir extremamente impotente.
Começou a lembrar de umas conversas antigas e sentiu saudade de um silêncio compartilhado.
Começou a pensar em umas conversas recentes e pensou que era melhor mesmo estar sozinha. Não teria que justificar o silêncio ou puxar assunto, não teria olhos curiosos em cima de seus pensamentos, não teria que se corrigir ou explicar um ponto de vista.
Quem visse aqueles olhos vazios jamais pensaria que por dentro se passavam tantos pensamentos. Deixou irem. Um por um. Não eram seus, não precisava daquilo.
Ficou apenas com uma cena, que ela mesmo havia criado. Um desenho mental que era como a personificação de uma sensação de uma conversa aconchegante. Era uma menina alegremente melancólica. Um tanto insegura. Sentava-se perto de um menino mal-humorado, impaciente e descontente. Conversavam sobre tudo e nada. Sorriam ainda que soubessem que ali estavam cansados desfrutando de besteiras só pro tempo passar e as coisas melhorarem. Era sempre o que esperavam. Ainda que fosse tudo só silêncio a sensação era confortante, como se finalmente ela tivesse achado o que procurava em seus passos andarilhos, seu espaço no mundo.

domingo, 3 de abril de 2011

Afonso

Um menino, um homem, um velho, depende da hora do dia.
Acorda com a luz forte sobre os olhos se perguntando se tem mesmo que levantar e viver este incansável teatro sem musa, sem bailarina que aceite sua poesia e a divisão do palco. Se pergunta se sua métrica está errada, se pergunta se só ele consegue sentir a melodia do que escreve, se pergunta se um dia irá parar de ser o coadjuvante de outros palcos.
Levanta-se, parece um Dom Quixote. Algo o move, ninguém sabe o quê, parece ser a esperança dos cansados, a paixão dos românticos, o desvario dos bêbados.
Está vivo. Anda sem rumo, não tem pra onde voltar, mas sabe aonde quer ir. Sorri e por compartilhar tal feito com os outros é o que o torna tão Afense, que pra mim deriva de afeto.

10/07/2010

Um beijo de sua flor nipônica preferida. =*

quinta-feira, 31 de março de 2011

Oi

Oi. Eu não te conheço, não sei seu nome, endereço ou telefone. Nem quando ou como vou te encontrar. Mas peço pra me encontrar logo porque minha saudade de ti é pra já. E quando penso em ti me dobro tentando me sufocar, porque a única coisa que sinto é que o Amor não sabe esperar.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Adieu

Ninguém nunca sabe como começar a introdução a um Adeus.

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Fria.
Talvez mais que a chuva que caía lá fora.
Pensou em escrever uma carta de despedidas, abandonar a casa, arrumar as malas e ir embora como sempre fazia. Nesta manhã porém, acordou devagar e observou cada centímetro do que chamava de "A little piece of heaven". Cortinas, os entalhes dos móveis, a pintura da parede, as frases preferidas rabiscadas nelas, o mensageiro dos ventos, tudo era tão perfeito e tão seu. Parecia que acordava pela primeira vez após o último retoque da obra-prima, quando na verdade já se passara 5 anos naquela cidade. Trazia na mala pouca bagagem e muita coragem. Aos poucos montou sua casa com a determinação de que não sairia mais dali, aguentaria, seria forte, ali seria sua fortaleza. Fugir não mais. Amar não mais, também fazia parte do plano.

1 ano e meio conheceu alguém, era Amor.
2 anos estava namorando.
1 mês ele já ocupava uma gaveta.
mais 5 e seu perfume estava na roupa de cama, na mesa de cabeceira surgiu um cinzeiro...

5 anos e aquilo já não parecia seu. 3 anos e meio e já não parecia Amor.

Levantou. Arrumou as malas, o que não coube enfiou em sacolas. Tentou encaixotar algumas coisas, mas a vontade mesmo era de jogar tudo fora. Terminou e pela primeira vez, em um dia de despedida adormeceu no travesseiro seco, e por uma exaustão apenas física.

Acordou, fez um café e sentou-se no sofá com biscoitos e seu notebook aberto. Há quanto tempo não fazia isso? Noite chuvosa. Esperaria ele chegar.

Madrugada, escutou os velhos passos que pretendia não ouvir nunca mais. Ficou ansiosa por breves segundos que se passaram com uma inspiração profunda, enquanto via a fechadura ser destrancada. Voltou seus olhos pra tela do computador.
A sala estava escura seu rosto se iluminava somente pela tela do aparelho, quando um vulto entrou na sala meio vacilante. Sexta-feira, happy-hour, bebidas, conversas, desculpas que ela não ia ouvir mais e ele sabia porque há dias tinha deixado de proferí-las.
Ele deu alguns passos, pra pôr as chaves no lugar, quando ela começou seu belo discurso de Adeus. Com total indiferença sem tirar os olhos da tela, só falava.

-Não se mexa. Não pra pôr essas chaves aí. Você pode guardá-las no seu bolso.

Ele só não ficou mais assustado pela dormência da bebida. Aquela não parecia a mulher doce e sofrida que deixava brava e magoada todas as sextas pra se redimir com amor no sábado. Essa era fria e determinada. E antes que ele pudesse tecer qualquer comentário ela voltou a falar.

-Não que as chaves serão úteis, mas algumas coisas inevitavelmente terão de mudar, não vou olhar pras minhas chaves e lembrar de você.

Ele ia se aproximar quando ela disse:

-Não se aproxime de mim. Não vá molhar esse tapete que não é você quem vai enxugar. Aliás vou pedir pra você secar o chão quando for embora. Estou cansada. Passei o dia a arrumar suas malas encaixotar algumas de suas coisas, as que não couberam enfiei em sacolas. Espero que não se importe.

Ele estava paralisado. O efeito da bebida parecia passar a medida que ela falava, quando ao mesmo tempo ele se sentia num sonho impossível. Mas não era.

-Sei que está chovendo lá fora, mas já arrumei tudo então vou pedir pra você ir embora agora. É bom que assim a chuva apaga suas pegadas, você esquece que um dia veio aqui e eu esqueço que deixei alguém entrar aqui. Tenho certeza que não esqueci de nada, mas se tiver esquecido você pode revirar na minha lixeira depois, a que fica lá fora claro.
Ele só conseguiu se mover pro lado onde estavam malas e caixas e algumas sacolas.
Ela suspirou.

-Adie mon... Hum. Você nunca foi meu na verdade. Nunca fez parte disso aqui.Veio com pouca bagagem e fez um estrago enorme. Se fosse meu te jogava como alguém que enjoa de um brinquedo, seria mais fácil. Não não, não é o que estou fazendo. Você vai embora e eu queria pedir pra ir de uma vez, levar seu cheiro das minhas roupas de cama, das minhas cortinas, dos meus móveis. Levar seus barulhos e manias. Levar até suas lembranças em mim. Pediria a você: "Leve também metade da minha alma e pedaços do meu coração se lhe é preciso que vá embora. Não leve-o todo tenho certeza que há partes nele que não são suas. O que sobrar pode pôr num vidro, pra flores que você nunca me deu e ponha whisky ao invés de água. Não o que eu te dei aquele você leva, mas um melhor que comprei pra essa despedida. Quem sabe com uma bebida quente meu coração não sinta um pouco de calor, um pouco da vida que quando você veio me roubou."

Adieu.

domingo, 20 de março de 2011

T.

T. foi o homem mais menino e mais velho que conheci. E foi um enorme prazer conhecê-lo. Era um homem em seus vinte e tantos anos, aparentemente normal, ou não. Nunca o vi andar pela orla da praia, mas tenho certeza que o fazia, e que se um dia o olhasse não seria normal. Imagino que suas sobrancelhas chamem atenção lhe dando um ar de maldade e desgosto da vida que não eram de todo erradas. Mas também imagino que num surto de andarilho por ruas tão desconhecidas e tão suas tal expressão suavizasse na beira-mar, quando por um acaso ele resolvesse parar.
Quando novo ergueu seu coração ao céu: entre igrejas e túmulos talvez buscasse a aprovação divina, a alma em troca de um pouco de compaixão do senhor dos destinos.
Quando mais jovem estendeu seu coração à frente, como um menino encabulado que estende uma rosa a uma professora, a uma prima ou à vizinha da rua de cima. Era um menino tão bobo com o Amor. Cada amor seu foi cultivado com o zelo das mais belas flores dos jardins mais secretos, e sorria com isso. Era como se com tanto zelo houvesse fé suficiente para acreditar que daquela vez, em cada uma das vezes, não ia dar errado. Mas dava. E isso matava pedacinhos do jardim de um menino bobo que a cada perda ia diminuindo seu jardim, seus investimentos nas flores, mas nunca seus cuidados. E por isso sorriu com pouco, e chorou por tudo. Viu não querendo crer, sentiu a parte mais insensível do mundo, protestou para todos os deuses do passado, chorou por si, pra si, gritou pro universo surdo, mas jamais se conformou com seu chão caindo uma, duas, inúmeras vezes. Em seus vinte e tantos anos ou menos já andava encurvado. Agora ele não erguia o coração, muito menos o estendia, na verdade o escondia. Entre ombros largos carregando por vezes o peso de Atlas e joelhos por vezes fracos e doloridos demais pra tanto peso, protegia um coração que ainda pulsava tão forte quanto ele mesmo no mundo. Era o que chamava de surtos. Pulsava como um louco e talvez realmente o fosse. Era sincero, por vezes irônico e desnecessariamente estúpido, mas era certo, o que escandalizava os demasiadamente hipócritas, irritava profundamente os conformistas e encantava os outros loucos. Sua metáfora perfeita seria: se o universo fosse um grande coração que parou de bater, seus comentários, absurdamente sinceros, seriam choques que talvez um dia fizessem o universo lhe responder, chamar por vida. Quando cansado demais se resguardava em seu pequeno grande universo próprio, que se resumia a desenhos, livros, músicas, paredes brancas, quartos escuros, noites em claro, viagens com seu par de amigos cama e teto, tudo que lhe fazia realmente bem, ou pelo menos tudo que não ia lhe machucar. Afinal, era seu universo, um local com o qual sempre poderia contar, ao contrário de um par de braços que oferecia o mundo e tudo que há de mais por sua companhia, e quando a tinha ia embora deixando o vazio, a saudade e a dor. Era um velho de conhecimento quem sabe mais velho ainda de dores, experiências. Cheio de histórias suas e dos outros com ou sem menor sentido, amáveis ou amargas, por vezes surreais demais.
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Um paradoxo Humanamente normal, pessoalmente excêntrico, curiosamente atraente.
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Admitidamente ingrato, pra mim ainda era mais que um cara legal e estranhamente insano.
T. era mais que um Amor de pessoa, era o Amor em pessoa, era o homem que eu amava.

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P.S.:Favor não fazer nenhuma relação de ordem cronológica. O texto é mais antigo do que parece.