domingo, 10 de julho de 2011

06.22.11



Um quarto meio escuro. Um quarto meio claro.

Estava deitada.

Tinha apagado as luzes mas no quarto ainda penetrava alguma luz dos postes da cidade, o que permitia que vislumbrasse o contorno de formas familiares como a estante de livros que não tinha livros seus.

Fechou os olhos.

Havia mais de um ano havia saído de casa. Nela tinha seu próprio quarto, e no mesmo escuro que usava para seus devaneios vislumbrava o teto com algumas estrelas e outras formas fosforecentes, uns pôsters, prateleiras com pelúcias e outros objetos que faziam a guarda de seus livros. Uma cômoda com perfumes e mais livros, um guarda roupa e um beliche. Dormia na cama de cima, gostava de olhar por cima e perfeito era ver a luz que os dias nublados produziam ao encontrar suas cortinas, um branco azul suave, um casamento perfeito.

Respirou fundo como se pudesse absorver todo o cheiro da cena, antes que ela se esvaísse. Por um momento acreditou ter tocado num planeta deste universo tão familiar.

Abriu os olhos. Sentiu os lábios encurvados para baixo. Lembrou de suas olheiras a pouco vistas no espelho, depois do banho. Quanta saudade.

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Cantou:

”-Viajamos sete léguas

Por entre abismos e florestas

Por Deus nunca me vi tão só

É a própria fé o que destrói

Estes são dias desleais.”

_

Não chorou. Não se sentia triste. Não de todo, não profundamente.

Era mais exaustão. Lembrou de uma imagem de Atlas que lhe havia passado na mente uns dias atrás. Narrava-a mentalmente.

”- E eis que o mundo chegou ao ponto de pesar tanto que caiu sobre Atlas, e o esmagou. Ele não tentou dizer nada, Não protestou, não pensou nos melhores momentos da sua vida, não ergueu a mão pra tocar algo que não existia. Apenas fechou os olhos, enquanto seu corpo gelava e ele perdia a consciência. Era a primeira vez que descansava na Vid… morte.”

Por um breve descuido deixou os pensamentos escorregarem para seu futuro. E quando isso acontecia as velhas lembranças começavam a aparecer como num filme.

Um pânico.

Amava filmes, não amava o drama que sua vida havia se mostrado. Curta-metragens de comédias românticas que haviam perdido a graça, despedidas, lágrimas da mãe, momentos felizes que traziam tanta saudade que só conseguiam fazê-la se sentir melaconlicamente alegre.

Chorou. E quando se deu conta, se agarrava fortemente ao travesseiro que parecia ser o único no local a possuir um cheiro, ainda que leve, de algo familiar.

No auge da escuridão onde nem as luzes dos postes pareciam mais se fazer presentes, Soluçou descontroladamente e desejou por um momento sumir, e talvez por um brilho eterno morrer.

Adormeceu pensando no brilho eterno das estrelas do quadro de Van Gogh, as quais talvez também desejassem um dia perecer.

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