sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ela


Ela acorda todas as manhãs e sem levantar olha pro espelho da porta de seu guarda roupa esperando escolher a melhor cara com a qual se levantar.
Ela não quer saber o que a aguarda hoje no mundo lá fora. A única cosia que ela pensa é nos dias felizes que virão quando seus maiores sonhos se realizarem, só aí sim ela se levanta com seu melhor sorriso.
Ela se arruma demorando certas vezes na escolha de sua roupa, ou conferindo os materias na sua bolsa. Pronta, ela beija a foto de um menino que fica debaixo de seu travesseiro como se beijasse seu próprio marido antes de sair de casa. Ela às vezes espera que sua mãe se ofereça pra levar-lhe na metade do caminho num dia chuvoso ou não. Ela pensa que assim ela pode saber as novidades da família ou até mesmo do mundo numa conversa dentro do carro, mas ela sabe que às vezes isso vai estragar o comecinho do seu dia com alguma discussão. Às vezes ele gosta de acordar e ir cedo só pelo fato de saber que deve ser cada dia mais independente se quiser voltar pra casa.
Ela espera o ônibus pra ir pra faculdade ansiosa pra ir sentada e sem companhias desagradáveis. Ela gosta de estar só com sua mesma paisagem e o ar frio da manhã.Ela chega na faculdade pensando em todos os sorrisos que dará ao decorrer do dia e nas tantas coisas que tem pra fazer. Ela sente saudade do tempo da infância mas às vezes se pergunta se se adaptaria a voltar a ter tempo demais e coisas de menos. Ela considera a Biblioteca, ainda que com livros defasados e regras absurdas, um dos lugares mais incríveis do mundo. No retorno ela pensa em sonhos bobos, como andar um dia no meio de um grande jardim, ou acordar e olhar pro lado pra um não-anjo, não deus que cheira a conforto e carinho. Ela volta, sempre cansada demais pros outros, ou sempre esperando demais de poucos. Ela tem dificuldade pra dormir desde que abandonou sua cama de verdade, e pensa em fugir todas as noites, de formas quixotescas. No auge de seu desespero mudo, dormir é seu maior alívio e melhor que isso, ela pensa em um milésimo de segundo antes de entrar em coma, se não fosse por falta de coragem, seria somente a morte.


P.S: 19/12/2009

Aliás isso me lembra "The original fire has died and gone But the riot inside moves on (8)"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Último discurso inútil

Ponho-me hoje a escrever meu último discurso inútil aos reles humanos que ainda insistem em não se calar ou se dar ao luxo de medir suas palavras.
Vou começar com a antiga redundância da expressão minha vida pessoal, onde nela todas as coisas só eu sei e, ainda que uma delas me escapasse, só eu saberia o motivo e a versão da história completa. Ou pelo menos é assim que quero acreditar.

De toda a minha vida pessoal desde os anos mais inocentes até estes anos mais cansativos onde eu luto para não cair na rotina robotizada do nosso novo mundo, gosto de ser meu autor onisciente.
Sendo assim, todas as histórias desde meu suspiro apaixonado aos meus choros mais calados só eu sei o que passei. Por mais que alguém diga que sabe o que são as dores e as felicidades de estar com a família em problemas ou em alegrias, pra mim são só palavras porque os sentimentos só eu senti.
Situações parecidas não são as mesmas situações.
Minhas lágrimas caíram sozinhas ainda que eu tenha tido sorrisos compartilhados.
Egoísta? Humm... territorialista. Minha vida, meu espaço.
Um autor onisciente sabe, ou pensa que sabe, de seu roteiro de suas escolhas das reações da maior parte do público. Ele não precisa de conselhos falhos, discursos hipócritas e da farsa dos sentimentos compartilhados de críticos que usam disso para se sentirem melhores e existentes, quando na verdade têm a inútil função de aborrecer e serem ignorados pelo autor.
E porque fazem isso? Não sabem ao menos escrever a história de suas próprias vidas ou ver o que há de interessante nelas, não se matando pelo simples fato de saberem que nem ao menos sua carta suicida seria bem feita.
Em nome dos autores digo que cuidem de suas medíocres vidas. Engulam seus livros de auto-ajuda, guardem seus discursos religiosos cheios de hipocrisia, e sobrevivam da venda de seus valiosos conselhos. Por fim deixo meu pedido mais singelo que costurem suas bocas com a linha do bom senso em nome da paz e dos bons costumes.

Dedicado aos bons expressivos que encontrei na vida, não por serem realmente bons, mas por se salvarem da mediocridade geral. Por escreverem textos, ou usarem de qualquer outro talento para expressarem sentimentos onde outras pessoas sofram catarse espôntanea e fortuita. Um grande beijo.