quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amizade


Nunca fui privilegiada com isso na minha vida. Pra começar nasci num sítio sendo amiga dos animais e das plantas. Se eu tinha irmãos? Tive 5, aliás descobri faz menos de três dias que eu deveria ter mais dois irmãos. Amo muito eles, chega a ser até mesmo um amor meio natural pra mim, que vejo muitas coisas pelo lado biológico. Mas, de fato mesmo, eu nunca pude dizer que eram meus amigos. Irmãos mais velhos tem mania de maltratar os menores, assim como os caçulas adoram aprontar e serem protegidos após se fazerem de vítima. Mas na minha família onde a educação foi principalmente japonesa, apesar de minha mãe ser brasileira, nós sempre fomos meio frios. Só sei que existiram abraços entre irmãos por ver fotos, porque lembrar de um carinho fraternal, é algo que não existe em minha mente. Sempre bagunçamos entre irmãos, sorrisos, ajudas nas horas de aperto de brigas na escola e tudo mais, mas quando se tratava de segredos, amores, vida pessoal aprendemos a guardá-los somente conosco ou, com muito receio, compartilhá-los com amigos de escola. Tudo devido às brigas. Quando elas aconteciam sabíamos bem onde atacar, sem força mas com crueldade, gritávamos o segredo pra todos ouvirem, como crianças inconsequentes, e assim a vítima ficar em estado de choque, envergonhada, com raiva, desnorteada com a dor da traição do próprio irmão.
Assim foram alguns dos tristes dias da infância.
A terrível solidão de não poder chorar a perda de um amor com seu próprio irmão ou de outras dores.
Poder compartilhar algo é muito agradável, mas o medo da traição é algo assustador, ainda mais quando temos muitas dúvidas sobre o que sentimos.
O mundo é muito cruel e preconceituoso, principalmente na infância, nosso refúgio é nossa casa. Imagine ter que criar um mundo dentro de sua própria casa, nas paredes do seu quarto ou debaixo da sua coberta.
Às vezes penso se eles se afetaram como eu, apesar disso ser uma frustração que superei pelo menos com meus irmãos mais próximos, aliviando um peso enorme de nossas estranhas relações familiares.
Penso se a verdadeira amizade existe...
Às vezes eu penso que tudo faz parte apenas de uma utopia egoísta.
Penso que um amigo deve te conhecer, saber seus gostos suas manias e ações.
Deve te compreender e aceitar acima das diferenças, saber ouvir assim como saber falar e alertar, quando necessário, mesmo que o amigo não vá ouvir, mesmo que ele quebre a cara e venha chorar em seus braços.
Amigo é aquele que estará de braços abertos quando você nem tiver coragem de levantar o rosto e estiver se esvaindo em lágrimas de dor ou de raiva. Ele não dirá: " Eu te avisei." ou sinônimos. Ele simplesmente te ajudará a levantar a cabeça novamente e sorrir.
Utopia.

Somos seres humanos com maus dias.
Somos egoístas e cobramos muitas vezes o que não pudemos ou quisemos dar. Temos nossos defeitos, nos machucamos sem querer ou por querer. Esquecemos datas, sucos preferidos, manias e coisas que nem ao menos foram esquecidas, simplesmente mudaram sem nos comunicar.
Alguns levarão como erro de comunicação, os outros dirão que foi desatenção, ausência. Os princípios uma hora gritam. A falta de sinceridade envenena, e o excesso machuca, mas sara a ferida, é como a diferença entre um remédio e um veneno, apenas a quantidade. A lealdade questiona sua ausência e quebra a confiança.
Todo caminho possui seus divisores de água.
No primeiro, seu grande amor e compreensão por seu amigo passarão por estas pequenas coisas, a conversa virá, a lealdade surgirá, as feridas sararão e a confiança estará intacta.
Serão tempos de girassóis com mais conversas e menos cobranças, e você se sentirá bem para acompanhar e ser acompanhado pra sorrir ou pra chorar.

No segundo, as coisas virarão amizade por conveniência,
porque a confiança foi destruída já que lealdade não se cria ou se ensina, e tudo caminhará para simples situações estranhas, e no fim restarão apenas desconhecidos.
Tudo uma questão de época ou tempo.
Não é nada que seja triste, nada pelo que se lamentar, a maioria dos seus amigos realmente te deixarão, não porque eles não te amem mais ou não reconheçam o valor que você teve, simplesmente porque está na hora de ir, sem alarmes de despedidas, sem fingir que nada aconteceu, sem lágrimas ou lamentações.