sábado, 25 de dezembro de 2010

Starry Starry Night- uma canção e uma prece.

Eu poderia escrever esta história de várias maneiras, misturando realidade e fantasia num belo conto. Porém limitar-me-ei a descrever parte de minhas memórias, que também não chegam perto da realidade em virtude da humanidade que reside em mim, ela e suas belas falhas.

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Não lembrarei o dia nem o tempo, mas com certeza foi numa madrugada que nos falamos pela primeira vez.Conversávamos sobre tudo e nada. Estávamos nos conhecendo afinal. Ele não tinha foto ah não ser uma muito antiga do snoopy, dizia que não conseguia não sair bobo em uma foto. Gostava de sorrisos, era ateu e tinha um ar de gostar de chocar as pessoas com seus comentários ou exibindo rapidamente uma foto de um terapia freudiana para tratar a histeria das mulheres. Era engraçado, curioso e direto, além de inteligente. E isso me atraía, porque alguém assim não se limita a ser só isso. Como no oceano, eu queria ver o que tinha abaixo da superfície.
Conversando sobre crenças ele disse algo como Deus ser injusto por ter levado um amor seu. Disse que eu podia perguntar o que era que ele não tinha problemas em falar sobre, mas eu preferi deixar essas coisas com o tempo.
Quando fui realmente conhecendo ele vi que vivia sobre a trilha sonora de Wolfsheim que dizia: "Calm down my heart don't beat so fast, don't be afraid just once in a lifetime." Com uma mágoa do mundo que ele já não podia conter, como aquelas pessoas que por sofrerem demais com seus corações passam a andar envergados segurando o peito. Eu me perguntava se aquilo ainda eram pela mágoas do passado.

O tempo passou eu fui me envolvendo como quem bebe e se deixa levar pela música num fim de festa. Ele não me dava muita atenção, e sempre que podia deixava claro os empecilhos de uma relação entre nós.
Hoje olhando eu não me lembro quando foi e nem porque foi que ele passou a me dar algum tempo de seus dias. Todavia me lembro bem quando pedi que descrevesse o que sentia por mim e ele disse que não era algo para se descrever e sim bom de se sentir. Foi uma bela noite. Talvez a mais bela de todas ao ponto de que a minha mente chega a duvidar se realmente aconteceu ou se sonhei.
No outro dia nem nos falamos direito. Sabíamos as implicações de tudo aquilo e a última coisa que queríamos era nos machucar. O que me fez lembrar dele num show em que o artista disse algo como: " E hoje desse amor não mais me livro, pois tal sentimento em mim virou amizade ao ponto que agora esse amor é infindo."

Na verdade eu já me machucava há um tempo. Não por ciúmes nem pela impossibilidade do relacionamento, mas sobre como ele ficava depois. 25 anos e nenhum mulher que o tivesse feito dignamente feliz. O que me machucava era a total impotência que eu sentia de ver uma por uma levar um pedaço daquele coração que eu tanto queria zelar. Era como sereias, iludiam com belos cantos, enebriavam com suas belezas e no fim eu além de ver todo aquele ritual o via tentando respirar com os pulmões cheios d'água. Sobrevivendo por um fio, mais pelo medo da morte do que pela vontade de viver. E quando voltava já não era mais o mesmo. Não parecia ser. Era mais cuidadoso, mais frio e desacreditado. E aquilo me matava de uma forma...Quase no patamar da saudade a impotência é um sentimento extremamente cruel.
Ninguém diria que aquela cicatriz no esterno de uma doença de infância no coração, cobria dores ainda maiores do mesmo órgão.

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Nossa conexão sempre foi incrivelmente boa. Nossa relação era como uma dança que eu me recusava a assistir quando outra dançarina ocupava o meu lugar. Eu me afastava, ele se afastava, por nos gostarmos demais evitávamos nos maltratar. E ainda assim nos machucávamos.
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A verdade é que hoje ando cheia das verdades.
Talvez eu tenho acordado ontem desses sonhos e pesadelos... que eu finalmente vi que ele nunca me amou e que eu nem sei o que eu fui pra ele. E que eu jamais saberia lidar com tanta dor de vê-lo tentar esconder um coração do qual mal restaram pedaços.
Nunca os dias foram tão irritantemente brilhantes agora que consigo enxergar, assim como aquela cama num canto, no escuro jamais tinha sido tão aconchegante.
E eu passarei dias a ouvir Starry Starry Night (8) enfatizando as partes grifadas, sendo as duas primeiras frases pra mim e as duas outras pra ele.



Starry, starry night
Paint your palette blue and grey
Look out on a summer's day
With eyes that know the darkness in my soul
Shadows on the hills
Sketch the trees and daffodils
Catch the breeze and the winter chills
In colours on the snowy linen land

Now I understand
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen
They did not know how
Perhaps they'll listen now

Starry, starry night
Flaming flowers that brightly blaze
Swirling clouds and violet haze
Reflect in Vincent's eyes of china blue
Colours changing hue
Morning fields of amber grain
Weathered faces lined in pain
Are soothed beneath the artists' loving hand

Now I understand
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen
They did not know how
Perhaps they'll listen now

For they could not love you (Pois eles não podiam te amar)
But still your love was true(Mas ainda assim seu amor era verdadeiro)
And when no hope was left inside
On that starry, starry night
You took your life as lovers often do
But I could have told you Vincent (Mas eu poderia ter-lhe dito,)
This world was never meant for one as beautiful as you (Esse mundo nunca foi feito para alguém tão bonito como você)

Like the strangers that you've met
The ragged men in ragged clothes
The silver thorn of bloody rose
Lie crushed and broken on the virgin snow

Now I think I know
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen
They're not listening still
Perhaps they never will...
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Minhas últimas verdades são que eu o amei com todas as palavras que o Amor há de usar para se descrever. E que hoje eu só teria dois pedidos: me livrar dessas dores, dessa desconfiança e descrença no Amor, de todo esse medo de abrir o coração e um dia não restar mais pedaços dele, nem o suficiente pra continuar a viver. E o outro é que agora que ele sabe, como eu sempre achei que soubesse, eu queria que ele não fosse embora ou que eu tivesse força pra ficar.

Pros curiosos hoje ele está sob a trilha sonora de Tais toi mon coeur.

O mundo é realmente muito injusto.

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